Quando já é tarde
Ao soar da meia noite
O fim do sono
E o começo da prosa
Ouço teus susurros
Palavras ao pé do ouvido
Que descem graciosas até minha boca
Tomo então de teu cálice único
Dedilhas meus cabelos com graça
E em teus olhos cismados
Vejo toda aquela dor passar
O que nos resta então são palavras
Que morrem sem sentir dor ou perda
Quero mais!
Mas ao soar do relógio
Sei que vais me deixar
A luz das velas tremulas ,já decadentes!
Vai-se gentilmente entre sorrisos faceiros
Contando com um gozo jamais tido.
O riso dos bêbados.
Dançando entre eles á muitos
Sorvendo cada peculiaridade dessa noite
A chuva cai sem piedade
Eles já não sentem as gotas geladas encharcarem as vestes
Gritos e cantorias ao léu
Me fascinam esses seres!
Que outrora me causaram ódio
Um ódio familiar ao amor
Seguem em sorrisos exagerados
Ao correr da hora
Mas que hora?
Afinal a hora é só uma matemática feita pelos homens para nos por em ordem
E dar nome ao tempo
Eles não crêem na ordem e nem no tempo
E nem em todas as coisas que nos fazem civilizados
E assim seguem dançando
E assim seguem caindo
Como um exército de fáscinoras sinceros
Ouça os gritos!
E os risos assustados e assustadores
Assim segue-se essa orgia alcoólica!
Segue a vida!
Muitos me olham
Muitos me xingam
Quero gritar
Estouras e até sumir
Não fomos feitos com essa capacidade!
Somos feitos para calar
Usurpadora!
Invejosa!
Vagabunda!
Maldita!
E as vozes ecoam
Batendo em cada parede que ousa estar no caminho
Malditos!
Infiéis!
Bastardos!
Replico em sofreguidão
Em ausência de vós
Em susurros de pura agonia
Não quero me calar!
Mas de fato nunca consegui dizer
Choro então lágrimas entrincadas de poesia
Recitando a minha própria ausência!
Meus
Quando as palavras tomam vida eu não sei o que fazer
Deixo me dominarem
Me picarem em mil pedaços
Elas tem vida,mas e eu?
Sou uma imaginação frívola dessas coisas?
Gosto que me dominem
Principalmente as palavras
Elas sabem o que fazem!
Extraem de mim até a última gota de vitalidade
E assim posso me perder em sono profundo
Ou seriam delírios?
Nos quais os personagens de fato existem
Mas eu os deixo mais bonitos ou gentis
Crio encima da tua imagem caricata
Inverto a tua pose
Desdobro até onde me agrada
Quem precisa de realidade quando tem as palavras.
Questão de gosto
Não gosto das canetas
Prefiro os pincéis
As canelas não deixam sujas as mãos
Não dão a certeza do trabalho árduo da criação
Prefiro as tintas marcando o chão
Os pincéis mergulhados em água turva
As canetas fazem o papel sofrer!
Os pincéis não!
Acariciam gostosamente a tela
Até o ponto de ela não sentis que de fato está sendo marcada
Já a canela machuca o papel até esse não notar o bem que ela lhe faz
O prazer que ela lhe proporcionará
Prefiro os pincéis
Mas são as canetas que me aceitam
Enquanto eles ,os pincéis riem de mim ao longe
Afinal,não sei mais como chegar até eles!
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